A 25ª Jornada Nacional de Cineclubes, iniciada dia 1º e encerrada dia 5 de dezembro, em São Paulo, teve resultados inusitados, em razão da ação sectária de um grupo que iniciou por ser golpista e terminou por ser anticomunista, em sua expressão mais rasteira.
A ação desse grupo era evidente desde o início dos debates, em janeiro, quando passou a usar de todas as manobras possíveis e inimagináveis para cercear a participação de entidades discordantes de suas práticas tendenciosas e invariavelmente truculentas.
A pior manifestação das idéias e formas de agir dessa seita ocorreu no sábado, na sessão de exibição do filme de Ronaldo Duque, Araguaia: conspiração do silêncio, quando a bancada de delegados orientada por essa seita simplesmente retirou-se do cinema, numa expressão obtusa de anticomunismo grosseiro e rançoso.
Para encurtar a conversa, transcrevo a seguir alguns documentos produzidos na Jornada para que o leitor entenda melhor o que se deu.
Aos cineclubistas presentes à 25ª Jornada Nacional de Cineclubes em São Paulo.
São Paulo, 3 de dezembro de 2004.
Fatos lamentáveis que se acumulam desde a preparação da 25ª
Jornada culminaram na tarde deste 3 de dezembro num impasse
cujas origens relata-se a seguir. De posse de uma maioria ocasional na Comissão Nacional de Rearticulação do Movimento Cineclubista, um grupo articulado em torno da figura de alguém, residente há muitos anos no Canadá, cassou o direito de voto de inúmeros cineclubes do país para forjar uma maioria artificial na Assembleia Geral e torná-la um instrumento não do conjunto do movimento, mas um rolo compressor para esmagar eventuais oposições, manipulando a Assembleia contra a delegação do Estado que abriga a própria Jornada, que assim passou a ser discriminada, perseguida, humilhada de forma aviltante e incompatível com a tradição
democrática do movimento.
Notórios cineclubes de todo o país tiveram seu direito de voto cassado, enquanto uma pessoa, que pela última vez esteve no Brasil em dezembro de 2003, conquistou de modo fraudulento o mesmo direito por um cineclube do interior de São Paulo. O conjunto do movimento cineclubista sabe que esse senhor não mora no país e que, portanto, não desenvolve qualquer atividade cineclubista, nem no país, quanto mais no referido cineclube, e que sua vinda para a 25ª Jornada foi viabilizada por meios estranhos à prática transparente que o movimento exige.
Parte dessa estratégia violenta, foi eleita para a direção da mesa condutora da Jornada uma pessoa que sequer participa de um cineclube, o que afronta totalmente princípios mínimos não só de legitimidade do movimento, como também de sua legalidade e institucionalidade, assim como foi eleita outra pessoa que sequer se encontrava presente no plenário no momento da composição da mesa.
Criou-se a ideia injusta, arbitrária e profundamente preconceituosa de que o conjunto das delegações do país deve esmagar os cineclubistas, ao ponto de vozes destemperadas, no grito, impedirem que cineclubistas verdadeiros tenham direito, não mais de voto, já que o arbítrio o cassou, mas sequer de voz.
A Assembleia Geral do movimento se bipartiu e a ordem do dia segue sendo cumprida pelas duas plenárias resultantes do impasse. A plenária que se insurgiu contra os métodos antidemocráticos, em cumprimento à decisão unânime dos delegados, comunica que reconhece o direito de voto a toda entidade legítima presente na Jornada e convida todos e aqueles que ainda se encontram privados do sagrado direito de voz e voto, como os demais cineclubistas já votantes e discordantes da supressão da democracia do movimento, a deslocarem-se para a plenária que os trata com o respeito que merecem, e não apenas como público passivo.
Aos cineclubistas, à opinião pública, às entidades e personalidades relacionadas ao cinema e audiovisual brasileiros:
O objetivo principal dos cineclubistas ao convocarem a 25ª Jornada nacional de Cineclubes, em São Paulo, era o de restituir unidade e organicidade ao movimento, fragmentado desde a desarticulação das entidades representativas, na década de 1990.
Convocada em Brasília, na 24ª Jornada, a 25ª deveria, para atingir esse objetivo, agregar e congregar as mais diversas, plurais e inusitadas experiências cineclubistas praticadas no país, reconhecendo nelas o potencial transformador, sua natureza insuspeitada pois expressão de novas práticas, e garantindo-lhes lugar, com voz e voto, no seio do movimento, e nas condições estabelecidas para participação na Jornada.
É forçoso, porém, reconhecer que essas expectativas se frustraram.
Na Comissão Nacional constituída para conduzir os trabalhos de organização da 25ª, um grupo não representativo do conjunto do movimento passou a atuar, na mesma Comissão, não em cumprimento dos objetivos aprovados na 24ª Jornada, mas em favor de interesses do próprio grupo. Assim, nos Estados não foram mobilizados, estimulados ou reconhecidos cineclubes sabidamente existentes, por não se alinharem a esse grupo.
O escândalo é tanto maior quando a arbitrariedade atingiu a um dos membros da própria Comissão Nacional, que, cineclubista há mais de trinta anos, teve seu direito de voto — e depois até de voz — cassado de modo truculento.
Esse tipo de ação grupista e partidária resultou em transtornos inúmeros para a 25ª Jornada, e os métodos empregados para "tratorar" as manifestações contrárias a eles produziram situações bizarras, tais como uma mesa diretora em que o presidente não atua em nenhum cineclube efetivamente em atividade, um membro deixou o cineclubismo há muito tempo, um segundo foi eleito sem que soubesse,pois não se encontrava no local da Assembleia, e um terceiro assume não participar de qualquer atividade cineclubista (Revista CINECLUBEBRASIL, número 3, página 19).
Essa mesa, assim "legítima", conduziu os trabalhos partidariamente, cassando o voto de todos os cineclubes que julgou ameaçarem a estratégia sectária, unilateral, antidemocrática, golpista desse grupo, constituindo na Assembleia Geral uma maioria inteiramente artificial que,
seguindo a lógica do voto de cabresto, atuou como rolo compressor. Na tentativa de superar o impasse, os que se rebelaram procuraram as lideranças desse grupo, propondo proporcionalidade, pluralidade e unidade na formação de um programa que contemplasse a diversidade da plenária.
Porém, essa expectativa mais uma vez foi frustrada, pois, enquanto se negociava com as ditas lideranças a superação do impasse, o grupo lançava uma chapa unilateral e excludente, dando por fato consumado suas aspirações autoritárias. Muitas outras irregularidades foram praticadas: alguém que, há anos, mora no exterior imoralmente representado um cineclube paulista; votação de estatutos com quatro votantes na plenária; cassação do direito de defesa e de voz;
credenciamento de cineclubes fantasmas, com exatamente o mesmo estatuto, e, por outro lado, cassação de cineclubes notórios, com registro em foto na capa de um dos maiores jornais de circulação nacional; etc.
Para cúmulo, a chapa do grupo foi eleita sem a apresentação de um programa. O coroamento do processo só poderia ser, para os que desejavam a unidade, frustrante e entristecedor.
Na plenária final, a lógica do arbítrio imperou, o que obrigou a que parte significativa da Assembleia, em protesto, entregasse seus crachás e se retirasse de plenário, e outra os entregasse e permanecesse, contestando o processo ilegítimo, de que resultou a atitude firme dos prejudicados, expressa no Manifesto Baiano, subscrito por paulistas e cearenses.
Porém, sem dúvidas, há saldo positivo: Aprofundou-se a discussão sobre o audiovisual, o cinema, a democratização dos meios de comunicação. As posições, as concepções, as práticas e os objetivos evidenciaram-se. A articulação do movimento cineclubista já não é somente uma vontade, é um fato, apesar da ocasional divisão provocada por uma prática arcaica. O movimento cresceu e tende a consolidar-se, embora em termos muito inferiores ao seu potencial, o que é dívida, para com o movimento cineclubista, de quem rejeitou desde o início e definitivamente a unidade.
Persistiremos na luta pela unidade do movimento cineclubista, e nesse sentido consideramos conveniente a realização de encontros estaduais e de um amplo, plural, diverso, horizontalizado fórum nacional cineclubista, talvez em julho próximo.
seguindo a lógica do voto de cabresto, atuou como rolo compressor. Na tentativa de superar o impasse, os que se rebelaram procuraram as lideranças desse grupo, propondo proporcionalidade, pluralidade e unidade na formação de um programa que contemplasse a diversidade da plenária.
Porém, essa expectativa mais uma vez foi frustrada, pois, enquanto se negociava com as ditas lideranças a superação do impasse, o grupo lançava uma chapa unilateral e excludente, dando por fato consumado suas aspirações autoritárias. Muitas outras irregularidades foram praticadas: alguém que, há anos, mora no exterior imoralmente representado um cineclube paulista; votação de estatutos com quatro votantes na plenária; cassação do direito de defesa e de voz;
credenciamento de cineclubes fantasmas, com exatamente o mesmo estatuto, e, por outro lado, cassação de cineclubes notórios, com registro em foto na capa de um dos maiores jornais de circulação nacional; etc.
Para cúmulo, a chapa do grupo foi eleita sem a apresentação de um programa. O coroamento do processo só poderia ser, para os que desejavam a unidade, frustrante e entristecedor.
Na plenária final, a lógica do arbítrio imperou, o que obrigou a que parte significativa da Assembleia, em protesto, entregasse seus crachás e se retirasse de plenário, e outra os entregasse e permanecesse, contestando o processo ilegítimo, de que resultou a atitude firme dos prejudicados, expressa no Manifesto Baiano, subscrito por paulistas e cearenses.
Porém, sem dúvidas, há saldo positivo: Aprofundou-se a discussão sobre o audiovisual, o cinema, a democratização dos meios de comunicação. As posições, as concepções, as práticas e os objetivos evidenciaram-se. A articulação do movimento cineclubista já não é somente uma vontade, é um fato, apesar da ocasional divisão provocada por uma prática arcaica. O movimento cresceu e tende a consolidar-se, embora em termos muito inferiores ao seu potencial, o que é dívida, para com o movimento cineclubista, de quem rejeitou desde o início e definitivamente a unidade.
Persistiremos na luta pela unidade do movimento cineclubista, e nesse sentido consideramos conveniente a realização de encontros estaduais e de um amplo, plural, diverso, horizontalizado fórum nacional cineclubista, talvez em julho próximo.
São Paulo, 5 de dezembro de 2004.
* * *
Manifesto Baiano na 25ª Jornada Nacional de Cineclubes
Referência histórica na luta contra a opressão, o cineclubismo brasileiro passa por momentos difíceis e não consegue conviver com as divergências. Em outros momentos, como o de extrema adversidade decorrente do regime militar, conseguimos construir uma trincheira de combate à repressão, evidenciando articulação e força.
Inegavelmente, divergências políticas sempre estiveram presentes no cineclubismo, e elas são expressivas de vitalidade em qualquer movimento organizado da sociedade.
Contudo, nossos antagonismos eram trabalhados internamente;
tínhamos adversários políticos, mas não inimigos políticos e
pessoais.
No presente momento, é notório um ambiente de disputa acirrada pelo poder, em que predominam sinais de vaidade e certos comportamentos de "infantilidade" política e desrespeito nos tratos com as divergências.
Retomar uma entidade nacional nessas circunstâncias é expor o Conselho Nacional de Cineclubes à desconfiança perante as instituições públicas e aos movimentos sociais que nos apoiam e acreditam no potencial do cineclubismo como agente de uma política cultural inclusiva e de empoderamento da sociedade civil.
Portanto, defendemos: a construção de uma agenda mínima de ação, com propósitos claramente definidos; e a efetivação de uma direção executiva que contemple as diferentes representatividades presentes nesta jornada, concretizando ao mesmo tempo a pluralidade e a unidade do movimento.
Não se efetivando essa composição plural, proporcional e unificadora, o
movimento baiano, representado pelos cineclubes presentes, não estará vinculado ao CNC. Realizaremos, o mais breve possível, um encontro estadual para deliberarmos sobre a criação de uma entidade representativa do Estado e o nosso posicionamento frente ao Conselho.
Saudações cineclubistas!
Delegação da Bahia, delegação do Ceará, e a imensa maioria da delegação de São Paulo presentes na 25ª. Jornada Nacional de Cineclubes.
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