À natureza nacional e democrática das práticas e ações cineclubistas soma-se ainda outra: a militante. Se as duas primeiras assumem características mais objetivas, esta última põe em relevo um aspecto subjetivo do movimento, mais relacionado à opção consciente, livre e voluntária, de indivíduos ou de conjuntos deles, de engajar-se na defesa de causas assumidas como justas.
Desde que ninguém está obrigado a participar de um movimento social ou cultural, qualquer que seja ele, aqueles que o fazem agem sob o império de suas próprias inclinações, o que é já em princípio manifestação de vontade própria e exercício de liberdade individual.
Ao ingressar no movimento cineclubista, o indivíduo põe-se em contato com outros indivíduos, com os quais passará a conviver, seja em atividades cotidianas, seja em encontros periódicos, seja em grupos de discussão na internet. A ação individual está, assim, inevitavelmente articulada às ações coletivas, e para ser eficaz precisa impregnar-se de espírito militante, amplo senso, caso contrário, desvia-se para a defesa de interesses particulares, o que é oportunismo, ou para de grupos, o que é sectarismo.
A atividade militante, por sua vez, tem características próprias, prima pela ação coletiva planejada, consciente, constante e contínua, persistente e combativa. Essas características põem em cena dois personagens de relevância: a política e a organização. Para se alcançar uma ação coletiva minimamente unitária é necessário que, antes, fruto de debates e acordos, disenções sejam superadas em favor de objetivos comuns, o que pressupõe amadurecimento político do grupo e dos indivíduos que o compõem. O aspecto da ação planejada, por sua vez, expõe o compromisso dos membros do grupo e do próprio coletivo em alcançar os fins estabelecidos da forma mais objetiva possível.
Juntar-se a um coletivo para atingir objetivos planejados é atitude consciente, e implica na aceitação de encargos, que exigirão o concurso da constância, da continuidade, da persistência, da combatividade.
A enorme crise vivida pelo cinema e pelo cineclubismo brasileiros na década de 1990, embora a segunda metade dessa década e o início desta em que nos encontramos apresente resultados positivos, deixou um rasto de devastação que ainda sequer foi devidamente apurado, e o rescaldo dessa década está por ser feito, o que demanda pesquisa.
O militante cineclubista hoje se vê frente a três tarefas igualmente difíceis: a primeira, a de realizar a crítica objetiva do período que passou; a segunda, a de realizar concretamente ações cineclubistas que resultem em rearticulação geral de um movimento que ainda está disperso, falto de acúmulo e sem maior visibilidade; e a terceira, a de definir seus objetivos estratégicos em função de um mundo profundamente alterado política, econômica, cultural e tecnologicamente.
Como se vê, quem nadar no imediatismo pequeno burguês vai naufragar, pois essas três tarefas requerem o concurso de uma outra característica que Lênin apontou como revolucionária no militante: a paciência.
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