Este ano, acompanhei menos o carnaval. Decidi cair na folia dos livros, e não me arrependi, salvo por uma ou outra imagem dos noticiários, principalmente as de close de foliãs, algumas realmente de encher os olhos e de sensibilizar o mais duro coração.
Entre os livros desse feriado prolongado, enfim resolvi ler ...E a televisão se fez, de Ellis Cashmore (São Paulo, Summus, 250 pp), que procura oferecer ao leitor um panorama tanto quanto possível abrangente das questões que envolvem esse meio de comunicação e entretenimento.
A tradução é clara e, porque o próprio texto é voltado para um público mais amplo, tem uma narratividade que convida a que se prossiga a leitura.
A tradução é clara e, porque o próprio texto é voltado para um público mais amplo, tem uma narratividade que convida a que se prossiga a leitura.
Os doze capítulos do livro versam sobre assuntos variados, todos de relevância para o entendimento da atual situação da TV no mundo, do impacto social da mais recente revolução tecnológica à imagem da mulher, passando por questões como ética, violência, propaganda política, infância entre outros.
Também são descritos e confrontados pontos de vista e pesquisas sobre o papel da TV na formação de hábitos sociais, de consumo, e de comportamento. Particularmente, chama a atenção para a escola de Frankfurt, para estudos culturalistas e para pesquisas mais recentes em contraposição a posições behavioristas que procuraram estabelecer relações diretas entre a programação de TV e o comportamento coletivo.
Todos os capítulos são interessantes e seria um tanto injusto apontar este ou aquele como de maior interesse. Todos eles são ilustrados oportunamente por exemplos ou narrativas de fatos que concretizam um conceito abordado ou uma tomada de posição – isso tudo no corpo do próprio texto, o que é uma vantagem, principalmente se pensarmos que as notas de rodapé, mesmo quando essenciais, causam um desagradável efeito de quebra do fluxo e do ritmo de leitura.
Todos os capítulos são interessantes e seria um tanto injusto apontar este ou aquele como de maior interesse. Todos eles são ilustrados oportunamente por exemplos ou narrativas de fatos que concretizam um conceito abordado ou uma tomada de posição – isso tudo no corpo do próprio texto, o que é uma vantagem, principalmente se pensarmos que as notas de rodapé, mesmo quando essenciais, causam um desagradável efeito de quebra do fluxo e do ritmo de leitura.
Por pura arbitrariedade, os capítulos que tratam da relação entre conteúdos de programação de TV e o público, da imagem da mulher e da propaganda me despertaram a atenção inicial – foram, digamos assim, minha porta de entrada no texto.
As pesquisas que na década de 60 procuraram estabelecer ligações diretas entre os conteúdos da programação e o comportamento de indivíduos chegam a ser divertidas: reuniam-se crianças para expô-las a programas ditos violentos (pica-pau, Tom e Jerry e Os tomates assassinos entre eles) para depois observá-las em situações reais de violência: é o primado de Pavlov.
Uma, particularmente, merece destaque: as crianças assistem a uma cena em que alguém espanca um boneco João Bobo, após o que os cientistas inflam um João Bobo, dão tacos de madeira às crianças para verem o que elas fazem. Pasmem: as crianças, felizes da vida, caem de pau sobre o coitado do boneco.
Com relação às mulheres, não é novidade nenhuma que sua crescente partição no mercado de trabalho chama a atenção das agências de publicidade para esse filão de ouro do mercado que não para de crescer.
As estratégias de marketing aqui são as mais sofisticadas, e vão do mito da juventude eterna aos apelos pela autoestima como mecanismo eficaz de aumento de venda de cosméticos.
As estratégias de marketing aqui são as mais sofisticadas, e vão do mito da juventude eterna aos apelos pela autoestima como mecanismo eficaz de aumento de venda de cosméticos.
O livro tem, entre outros méritos – e deméritos que cabe ao leitor descobrir –, o de estabelecer com clareza diferença entre o meio de comunicação de massa, com sua espetacular infraestrutura tecnológica, dos conteúdos veiculados.
Apresentando o primeiro como uma conquista humana irrefreável, Ellis Cashmore subsidia o leitor para que ele reflita sobre os conteúdos televisivos e sobre sua influência sobre uma sociedade desarmonicamente informada e escolarizada, seja por razões econômicas, seja por razões culturais ou ainda sociais.
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