sábado, 11 de junho de 2011

Primeira página

28/7/2004 

No último sábado, 24 de julho, realizou-se na cidade de Santos o Encontro Paulista de Cineclubismo, em meio a uma feliz coincidência: a generosa reportagem no jornal O Estado de S. Paulo, com foto de chamada em primeira página e substancial cobertura sobre cineclubismo no caderno Cidades.

Aos poucos a imprensa vai dando conta do que vem ocorrendo em quantidade e por todo o Brasil: o surgimento de cineclubes dos mais variados tipos e abrangendo os mais variados públicos, de aposentados a estudantes secundaristas, de universitários de graduação e pós-graduação a sem-tetos, de sindicalistas a jovens de periferia.

No encontro de Santos há bem uma significativa amostra dessa feliz variedade que tem tudo para tornar o ambiente cultural brasileiro mais colorido e alegre. Relatos os mais inusitados dão conta de atividades e ações espetaculares, algumas realizadas há vários anos, que agora, articuladas, se somam e tomam feições de movimento organizado.

Para ficar algumas, sendo já injusto com as que não serão citada, inicio pela experiência do MovimentaCine, de Mococa, cujo relato de seu representante, Ricardo D. Santos, recebeu longo aplauso do plenário.

Há alguns anos, o único cinema de Mococa fechara as portas, em razão da evasão crescente de público. Sensibilizada, a comunidade organizou-se para salvar seu patrimônio: elaborou e produziu carnês, a serem distribuídos em forma de associação. Os diretores do cinema deram um prazo para que a iniciativa desse certo, caso contrário, o fechamento do cinema seria concretizado.

Dentro do tempo estabelecido, um mês, os organizadores dessa iniciativa conseguiram distribuir na cidade 300 carnês, cada qual dando direito a quatro ingressos com acompanhantes, isso no valor de R$ 10,00, ou seja, R$ 1,25 por ingresso.

Não é preciso dizer que o cinema voltou à atividade, algumas vezes com sessão completa. Agora, qual o tamanho desse cinema? 1200 lugares.

Com isso, foi possível trocar os projetores a carvão por outros mais modernos e instalar novo sistema de som. Hoje, são distribuídos mais de 1500 carnês, a USP realiza mostra anual, em julho, com oficinas e exibições, e está em andamento projeto que articula o cinema, a Faculdade de Mococa e escolas públicas municipais e estaduais da região, o Cinema na Escola.

Como o sucesso das iniciativas, os organizadores do movimento que salvou o cinema da cidade montaram uma chapa, que foi a única, e passou a dirigir o Cine Mococa, uma sala que completa 45 anos em 2004, com exposição no museu, mostra da USP e novos projetos para articular cinemas e cineclubes da região e do sul de Minas Gerais.

Para dar idéia dos contrastes entre experiências, Sandra Lia Massarelli relatou as atividades do seu Cineclube Lá em Casa.

Cineclubista atuante, após aposentadoria resolveu atuar no bairro em que mora. Conversando com vizinhas e amigas pôs em cartaz filmes os mais variados: curtas-metragens de novos realizadores, longas clássicos, documentários etc. O lugar? A garagem de casa. O tempero? Amizade, caldo de mocotó, um bolinho. O equipamento? Uma TV grande, um aparelho de vídeo. Há seis anos o cinema não para no bairro do Butantã, na capital de São Paulo.

De Diadema, vieram informações sobre uma cidade que não tem uma única sala de cinema, mas que não pára de produzir e exibir. É o núcleo Com-Olhar, o Cineclubes Photogramas e o Mascate, exibindo na rua, em escolas, na praça em onde mais a imaginação possibilitar.

Sobre o cineclube Idade de Ouro, não vou falar, pois já foi alvo de meus comentários nesta mesma coluna faz um tempinho, além de ele próprio ter sido vedete de primeira página do Estadão no sábado. Mas é um exemplo de mobilização a ser observado, estudado e, não digo copiado, mas aprendido.

Há o pessoal do cineclube Corujão, que atua no espaço do teatro Ruth Escobar, que por razões de agenda não pode comparecer ao Encontro de Santos, mas sua experiência não poderia deixar de ser lembrada. Operando com cinema independente e em horário maldito, depois da 22,30h, às sextas e sábados, já andou tendo problemas com superlotação. Os relatos do Encontro são ricos e promissores, e é impossível citar tudo que se deu nele.

Mas isso não se restringe a São Paulo. Outro dia recebi notícias do cineclube Amazonas Douro, que criou uma ponte entre o norte do Brasil e o Norte de Portugal, com atividades de produção e exibição que dão alegria de contar. Sugiro que o internauta dê uma busca na rede para ver do que se trata, coisa de arrepiar, nos vários sentidos.

Em novembro será realizada em São Paulo, Capital, a 25ª Jornada Nacional de Cineclubes. As projeções, por enquanto, apontam para a participação de mais de 500 pessoas. Oxalá essa profecia se realize.

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