sábado, 11 de junho de 2011

Manifesto à 25a. Jornada Nacional: Um novo cineclubismo

2/12/2004

Gente é o que importa
ou, noutras palavras,
O maior capital do homem é o próprio homem
(Marx)

Parte desta nova fase de aprofundamento da democracia brasileira, iniciada com a eleição de Lula e a retomada do cinema brasileiro, a rearticulação do movimento cineclubista não se faz sem contradições, seja pela necessidade de que o passado do movimento seja criticado vigorosamente em tudo que foi de limitado e insuficiente, seja pela manifestação hoje de novas experiências que não podem nem devem ser mutiladas para que sejam encaixadas a fórceps a velhos e ultrapassados formatos e métodos, que se ufanavam pelas decisões de petit comité (que, aliás, no francês significa, literalmente, comissão secreta – para quem se interessar, ver o Dic. Francês/Port. da Bertrand), que tantos estragos fez ao movimento e que reflete uma prática cupulista, useira e vezeira de atropelar decisões coletivas, sempre em favor de articulações de curto alcance, verticalizadas e de mão única: de cima para baixo.

Essa rearticulação geral do movimento de forma mais combativa, que inclui as novas mídias e fortemente a produção, não se fará sem o embate entre novas experiências que precisam florescer e o que resta de ultrapassado nos corações e mentes. É absolutamente inevitável que práticas de petit comité queiram não apenas sobreviver como também condicionar o conjunto do movimento que estamos lutando para pôr de pé, como também é inevitável que as novas experiências e seus agentes se movam e lutem por fazer saltar, de baixo para cima, tudo que as impede de vir á luz.

O cineclubismo anterior a esta fase que estamos vivendo faliu, inviabilizou-se e amofinou-se na inanição por razões objetivas e por suas próprias deficiências. As instituições desse cineclubismo conservador morreram porque não correspondiam às necessidades urgentes do movimento, que, por isso, prosseguiu espontâneo e viveu uma década de iniciativas dispersas e desarticuladas, algumas de significativa relevância.

Retomar o movimento agora e submetê-lo às mesmas formas, estruturas e instituições que caducaram é condená-lo à artificialidade, ao engessamento, é condenar o horizonte largo ao horizonte estreito. Com o que não se pode concordar, nem se pode permitir.

Há uma larga diversidade de experiências cineclubistas pelo Brasil. Os agentes que as promovem, no mais das vezes, nem sequer intuem a natureza e a profundidade do que estão a realizar – e tudo que fazem é parte dessa luta pela descoisificação do público, do realizador, da obra cinematográfica enfim.

É preciso e urgente que reunamos toda essa gama de experiências variadas inusitadas, vivas, que ora são coletivas, ora são individuais, mas todas significativas e em perspectiva potencializadoras do nosso movimento.

Essas experiências devem ser reconhecidas e incorporadas pelas instituições que organizarmos: tela, seja a que for, de lençol ou cristal líquido; ação, a que for efetiva, da produção à crítica, da exibição à educação.

Numa expressão: o velho cineclubismo parou no reconhecimento da entidade cineclubista, e não foi além disso. Burocratizou-se e estabeleceu um limite estreito, curto e raso para o movimento, que a rigor não era, nessa perspectiva, cineclubista, mas de entidades cineclubistas, de cineclubes, o que circunscreveu o cineclubismo a um movimento exclusivamente de entidades – e, mesmo assim, nem de todo tipo.

Sem dúvidas que é necessária a organização de cineclubes, e que haja fóruns para cineclubes decidirem seus rumos. Porém, cineclubes não nascem em árvores: são obra de ação humana. Sem cineclubista não há cineclube.

É urgente que construamos entidades de base do movimento, ou seja, cineclubes, com a maior liberdade de organização possível e imaginável. E igualmente é urgente organizar formas de representação cineclubista – não apenas de cineclubes –, pois são eles os que devem dizer o que o movimento deve ou não ser, e não o contrário.

Que natureza, que objetivos, que configuração terão nossas entidades são questões de responsabilidade do cineclubista, dos que estão e dos que virão agregar-se a esse esforço cidadão de constituir instituições que lutem pelo aprofundamento de nossa democracia, sempre tão periclitante.

Nos fóruns antigos do movimento, o cineclubista não votava, votava apenas o representante do cineclube. É o que desejamos para o nosso movimento hoje? Constituiremos uma comissão de notáveis a decidir o que é ou não o movimento, ou todos os cineclubistas, com pleno uso do voto o decidirão? Estamos abertos às novas experiências, reconhecemos sua importância vital, validamos suas práticas e lhes franqueamos totalmente o movimento, ou pomos na porta do movimento uma catraca, protegida por um segurança encarquilhado a cobrar carteirinha de associado ao petit comité? Queremos mais gente se tornando cineclubista já, participando de jornadas centradas nas questões essenciais do movimento, ou desejamos, o que já vem ocorrendo, administrar a crescente exclusão de pessoas de nossos fóruns, voltados às lógicas que perderam a validade há mais de 14 anos? Queremos um Estado que fomente ou que tutele?

Portas abertas aos novos cineclubistas: quer virar cineclubista? Pode.
É cineclubista? Vota.
  • Por entidades de cineclubistas, estaduais e nacional, e não apenas de cineclubes.
  • Por jornadas de cineclubistas, estaduais e nacionais, e não apenas de cineclubes.
  • Por um forte movimento de formação de novos contingentes de cineclubistas, e não apenas de cineclubes.
  • Por uma política para o movimento que tenha como centro o cineclubismo, plural, amplo, democrático, diversificado, com toda sua riqueza de experiências, natureza e formato, que reconheça, respeite e incorpore os contrários.
  • Por um debate sobre o que são o cineclubismo, o cineclubista, e os cineclubes, debate franco, aberto, sem esquematismos ou apegos a fórmulas excludentes, e que resulte em novas instituições representativas do movimento.


Somente gente pode reativar nosso movimento com a força de que ele necessita para desempenhar o papel que pode e deve.
Gente, gente, gente. Gente votando.
E quanto mais, melhor. Não temos nada a perder, temos um mundo a ganhar.

(Assinam diversos cineclubes cineclubistas do Brasil)

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