sábado, 11 de junho de 2011

Sem democratização das mídias, a democracia periclita

27/10/2004

A eleição de Lula para o principal cargo executivo da nação significou o coroamento de um largo período de lutas e inaugurou outro de amplas possibilidades de aprofundamento da democracia em seus vários domínios – político, econômico, social e cultural –, possibilidades que só se concretizam por meio de ações significativas e perceptíveis para o conjunto das classes trabalhadoras.

Embora os índices de emprego tenham apresentado respiração no decorrer deste ano, a política econômica está longe de ser unanimidade. Nas grandes metrópoles, a economia informal, o desemprego, o subemprego, ou as condições de verdadeiro emparedamento daqueles que têm carteira assinada pintam imagem bem menos sorridente do que a seguidamente apresentada à imprensa pelo ministro da Economia e o presidente do Banco Central.

É certo que a marcação dos setores conservadores é cerrada, que não há um jornalão que diariamente não atire suas farpas venenosas em direção ao Planalto, que PSDB e PFL especializam-se em pescar em águas turvas, em atirar cascas de banana pelo caminho, em prever tempestades e furacões – mas o que esperar de aves de mau agouro?

Porém, em mais de um setor, espera-se mais ousadia até o fim do mandato.

As iniciativas do MinC, de teor amplamente democratizante e que convergem para a criação da ANCINAV, sob o massacre dos proprietários dos latifúndios midiáticos, tiveram de ser recolhidas provisoriamente, e se encontram em estágio de redimensionamento a partir de sugestões da sociedade organizada.

Ora, todos sabem que não é possível qualquer alteração significativa, em relação ao audiovisual, que conte com o apoio dos monopólios televisivos e de meios impressos. Aproveitando de uma situação de insipiência da democracia e arrogando-se a função de quarto poder da república, esses setores julgam-se acima da lei; quando contrariados, se esquecem de que são beneficiários de concessão pública e voltam toda sua munição contra quem bem entendem, até que não reste pedra sobre pedra.

Os partidos e forças que apóiam o governo precisam contribuir para a constituição de uma nova correlação de forças que torne possível a viabilização, ainda neste mandato, de verdadeiras transformações democráticas no que tange ao audiovisual, em que se incluem TVs e rádios. Isso significa mobilizar a sociedade para que ela faça valer, por meio de suas entidades, sua voz e seus interesses.

Por enquanto, a ofensiva está com o monopólio, que não abre espaço para outra voz que não seja a sua e que investe pesado para emparedar o governo em suas iniciativas transformadoras, e para barrar qualquer avanço popular.

É lógico que esse recuo do MinC reflete um estágio de correlações de forças bastante desfavorável, neste momento, às forças da mudança, porém, no que tange aos meios de comunicação de massa e à política de audiovisual, há um anseio por transformações democráticas e uma demanda represada cujo adiamento é verdadeiramente frustrante e periclitante.

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